Advogado de Daniele Barreto critica falta de assistência e diz que morte foi “tragédia anunciada”

Durante entrevista a uma rádio local nesta quarta-feira (10), o advogado Fábio Trindade, que representava a médica Daniele Barreto, lamentou profundamente a morte da cliente e fez duras críticas à atuação do sistema judiciário e da gestão prisional. Daniele foi encontrada morta na tarde da última terça-feira (9), em uma cela individual no Presídio Feminino (Prefem), em Nossa Senhora do Socorro.

Segundo o advogado, desde a chegada de Daniele à unidade prisional, ele solicitou atendimento psiquiátrico. “Assim que chegamos ao presídio, solicitamos a presença do psiquiatra. Foi nos informado que ele não estava e, após insistência, foi revelado que não há tal profissional da instituição”, declarou.

Ainda de acordo com Trindade, o psiquiatra responsável pelo acompanhamento de Daniele havia advertido que ela não deveria permanecer sozinha, pois havia alto risco de suicídio. “Avisei a unidade prisional que ela não poderia ficar sozinha em momento algum. A cunhada dela, Jaqueline, ainda alertou para não entregarem um lençol para ela.”

O advogado também relatou que havia registrado em livro a solicitação de visita à cliente, mas foi surpreendido ao ser informado da morte por uma amiga. “Recebi uma ligação de uma amiga informando que minha cliente acabou de se matar. Essa pessoa nem advogada é, e pediu para eu correr para o presídio, mas eu já estava lá e ninguém sabia do ocorrido. Quando eu questionei, veio a diretora e disse que a pulsação estava fraca e que estavam tentando reanimá-la.”

Em tom crítico, Trindade afirmou que a estrutura das unidades prisionais é precária e incapaz de oferecer tratamento adequado a pessoas em situação de fragilidade emocional. “Quem trabalha com direito criminal sabe a realidade. Não existe tratamento específico para qualquer coisa. É desumano como vejo pessoas doentes que avisam: ‘Doutor, não fui atendido pela enfermaria, não recebi meu remédio’. É desumano você colocar uma pessoa num lugar com alguma dor e saber que vai continuar assim até que alguém lembre dela.”

O advogado afirmou que Daniele já havia manifestado em juízo a intenção de tirar a própria vida. “Dani disse em juízo que faria isso. O tratamento dado a ela foi desumano. Eu implorei para não colocarem ela no presídio. Foi uma tragédia anunciada. Estou decepcionado demais com o judiciário desse estado.”

Questionado sobre o histórico psicológico da médica, Trindade afirmou que ela já enfrentava problemas antes da prisão. “Ela não tinha uma vida boa. Sofria agressões físicas e morais. Ela não tinha uma vida digna de mulher. Ela vivia acuada. E o quadro psicológico se agravou com o tempo. Ela já tomava remédios muito fortes, de tarja preta. Ela foi uma mulher muito humilhada. A situação se agravou com o processo.”

Segundo ele, o momento mais sensível para Daniele foi quando teve sua prisão revogada, o que, segundo o advogado, foi o gatilho para a piora do quadro emocional. “Toda sociedade julgando a vida dela sem saber o que ela passava. Ultimamente ela só falava que queria ver o filho. Ontem, no fórum, ela já não mostrava sinais de lucidez. Achava que já estava no júri dela. E já avisava que, assim que colocassem ela no presídio, ela tiraria a vida.”

Fábio Trindade também destacou que, independentemente do resultado do processo, a cliente merecia tratamento humanizado. “Ainda que no final do processo ela fosse condenada, ainda deveria ser tratada com humanidade.”

Durante a entrevista, ele também criticou a divulgação de imagens da médica após a morte. “Fui surpreendido com diversas fotos dela morta. Só tenho a lamentar o que aconteceu.”

Por fim, fez um apelo direto ao Judiciário. “Estou decepcionado com o judiciário. Juízes, eu clamo a vocês: se os advogados que vocês estão atendendo solicitarem atendimento psiquiátrico, acolham para que essas situações não voltem a acontecer. Esse caso retrata todo o descaso que a gente vive.”